O Grupo Mulheres do Brasil teve participação numa importantíssima conquista para as mulheres de Jundiaí. Acaba de entrar em operação no município a equipe do Programa Guardiã Maria da Penha, criado por lei municipal sancionada no início de julho, pelo prefeito Luiz Fernando Machado. Trata-se de uma patrulha, formada por três guardas municipais, com atribuição específica de fiscalizar casos de violência contra a mulher.
Quem chefia a equipe de Jundiaí é a coordenadora do programa, a guarda municipal Andreia Aparecida de Melo Pontes, envolvida desde o começo nos esforços que levaram à concretização da iniciativa. É ela quem explica como funcionará o trabalho da patrulha, que conta com viatura própria, devidamente caracterizada.
Conforme acordo de cooperação assinado no último dia 3 de julho, o Ministério Público de Jundiaí encaminhará todos os meses, ao programa, as medidas protetivas – instrumento jurídico que proíbe agressores de se aproximarem de suas vítimas – deferidas em casos enquadrados na Lei Maria da Penha, que pune violência contra a mulher e prevê suporte às vítimas.
A equipe da patrulha entrará em contato com todas as favorecidas pelas medidas, para entrevistá-las e instruí-las sobre o programa. “Afinal, elas têm a liberdade de querer ou não serem assistidas por ele”, explica Andreia. A entrevista serve para a equipe se inteirar do tipo de violência que motivou a medida e do perfil do agressor. Avaliado o grau de risco a que a vítima está exposta, a equipe estabelece, operacionalmente, de que forma ela será assistida – quantas vezes a patrulha passará pela casa dela para checagem, por exemplo. “O principal objetivo é a gente diminuir ou até zerar a possibilidade desse agressor reincidir na agressão. É um trabalho meio que personalizado”, explica a guarda municipal.
Para prestar esse suporte, os três membros da equipe vêm se qualificando desde novembro do ano passado, por meio de cursos e participação em congressos sobre o tema. “O treinamento vai se manter, porque é necessário ter o conhecimento atualizado sobre como atender essas mulheres”, diz Andreia.
Luta e persistência
Guarda municipal desde 2012, Andreia envolveu-se no esforço para a criação da patrulha quando passou a frequentar reuniões do Grupo Mulheres do Brasil. Lá conheceu a empreendedora e uma das primeiras participantes do movimento em Jundiaí, Glauciane Salles, que, por volta de 2011, iniciou um levantamento das demandas sociais do município junto aos Fundos Sociais de Solidariedade e às primeiras-damas do aglomerado urbano.
Em um dos encontros do grupo, Andreia conheceu o trabalho da major Denice Santiago, que criou a primeira patrulha Maria da Penha, em Salvador (BA). Interessou-se na hora pelo assunto, já que em seu trabalho tem contato com casos de violência contra a mulher. “Geralmente, o contato ocorre quando a violência chegou na fase física, mas a gente também tem contato com a mulher que fala sobre agressões verbais”, diz.
Percebendo o interesse, Glauciane Salles colocou Andreia em contato com a advogada – à época vice-presidente da subsecção local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) – Daniela Magalhães, que também engajou-se na luta pela viabilização da patrulha. “A dra. Daniela foi uma fortaleza. Trabalhou muito para estudar como implantar isso juridicamente em Jundiaí. Desbravou tudo quanto era projeto sobre o assunto que existia na Câmara. Fui viabilizando a conexão entre as duas e com vários nomes do Ministério Público”, lembra Glauciane.
A líder do Comitê de Combate à Violência Contra a Mulher do Grupo Mulheres do Brasil, Raquel Preto, também teve importante papel no processo, ministrando muitas palestras de conscientização sobre o assunto em Jundiaí, sempre que requisitada.
O “start” para o esforço de criação da patrulha foi dado mesmo em 2017, após os eventos locais dos ‘16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra a Mulher’ (veja box abaixo). “Foi quando fui convidada a assumir a coordenação do programa”, lembra a guarda municipal Andreia.
Após muita pesquisa e mobilizações, a dra. Daniela Magalhães conseguiu, este ano, que o vereador Cristiano Lopes apresentasse o projeto de lei de criação da patrulha, que foi aprovada em junho último. Para Andreia, o mais difícil nessa jornada foi a burocracia. Mas compensou o grupo ter contado com muito apoio, tanto dos chefes da Guarda quanto dos gestores de segurança pública e do Ministério Público, nas pessoas das promotoras Valéria Scarenzi, do Núcleo de Gênero de São Paulo, e Cláudia Eda, do MP de Jundiaí.
A patrulha ainda não recebeu a primeira remessa de medidas protetivas do Ministério Público, mas a guarda Andreia já deu uma olhada nas que foram deferidas nos meses de janeiro e fevereiro deste ano no município: um total de 70, o que indica que a patrulha terá muito trabalho pela frente.
*Por Sílvia Pereira
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