Foi sobre o que a doutora em psicologia e atual diretora executiva do CEERT, Cida Bento, falou durante o Plugar Igualdade Racial, no último dia 24 de outubro, em São Paulo.
* por Silvia Pereira Pelegrina
Eleita pela revista The Economist, em 2015, como uma das pessoas mais influentes do mundo na área de diversidade, a doutora em Psicologia pela USP e atual diretora executiva do CEERT (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades), Maria Aparecida Silva Bento, falou sobre “Pactos Narcísicos e Branquitude”, tema de suas teses de mestrado e doutorado, durante a programação do Plugar Igualdade Racial, do Grupo Mulheres do Brasil.
Originária da área de recursos humanos, Cida Bento – como é mais conhecida – trabalhou anos com recrutamento e seleção, prestando atenção nos processos de discriminação que envolviam mulheres, negros e pessoas mais velhas. “Decidi sair a campo para trabalhar com esse tema na universidade e na sociedade civil”, conta.
Ela fez mestrado e doutorado para entender e mostrar como, dentro das empresas, se operacionalizava a discriminação. Observando o que acontecia nos processos de recrutamento e seleção, construiu o conceito que chamou de ‘pacto narcísico’. Evocou o mito grego de Narciso – aquele que se debruça sobre a água e tem tanta paixão pela própria imagem que cai nela e morre afogado – para exemplificar a tendência de sempre se escolher e fortalecer o igual, nesses processos.
“Depois disso, muitos outros exemplos eu fui vivendo porque trabalho mais com brancos do que com negros em grandes corporações. Quem está dentro das empresas com a caneta na mão não são as mulheres negras, nem as mulheres. Em geral, estou falando com homens brancos. É com eles que eu vou falar sobre mulheres e mulheres negras. Então preciso entender um pouco disso”, justificou Cida, que atualmente atua como diretora do CEERT, coordena um censo das instituições bancárias, envolvendo 500 mil trabalhadores do Brasil inteiro.
Para explicar o conceito de ‘branquitude’, Cida cita como exemplo o mecanismo que acaba deixando mais jovens negros do que brancos na cadeia, aguardando julgamento. Lembra que, geralmente, o operador de Direito incumbido de avaliar se um indiciado oferece risco à sociedade é, geralmente, branco. “Ele olha para o branco parecido com ele e se pergunta se vai oferecer perigo e se pode esperar o julgamento em casa – ‘claro que pode’, pensa. Aí vem o negro, diferente dele… ‘não, ele oferece perigo para a sociedade’, porque é isso que o imaginário dele traz”, diz a pesquisadora.
Branquitude, assim como masculinidade, é uma referência. “É um lugar de privilégio. Uma reconstrução reafirmada o tempo inteiro, pelos livros didáticos, nas novelas, nos meios de comunicação, com uma positividade para os brancos e uma negatividade para os negros”, explica Cida.
Segundo ela, esse imaginário atua nos momentos em que julgamos, nas decisões que tomamos, nas escolhas que fazemos desta ou daquela pessoa para treinamento, no momento em que pensamos um produto ou serviço para nossa empresa. “É preciso tomar consciência dela para que elaboremos formas de caminhar juntos. Sei que é possível caminhar junto com as pessoas brancas para transformar nossa instituição em um lugar onde caibam todas as pessoas, onde caiba o Brasil”, concluiu.
*Por Sílvia Pereira
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