*Texto enviado pela correspondente Ana Paula Cardoso, líder do Comitê de Comunicação do Núcleo Paris
Na última segunda-feira, 21 de outubro, a Maison de l’Amerique Latine, em Paris, foi o cenário da comemoração dos dois anos de atividades do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Paris. Com a presença de cerca de 200 pessoas, contou também com a da modelo, empresária e atriz brasileira Luiza Brunet, que, em um talk show mediado por Ana Paula Cardoso, líder do Comitê de Comunicação, deu um emocionante relato sobre o tema do evento “Cada Voz Conta”, sobre combate à violência contra a contra a mulher.
Brunet, que em 2016 foi vítima de violência doméstica, contou sobre a necessidade que sentiu de transformar a experiência tão dolorosa em um causa pela qual lutar. “Tudo de muito ruim que passamos deixa um legado de fortalecimento. Hoje eu quero falar para mulheres e homens sobre a minha experiência, a fim de ajudar a interromper esse ciclo de violência contra mulheres no mundo”, disse a atriz.
Durante a palestra, foram apresentados dados mostrando os índices de feminicídio no Brasil e na França. O evento teve ainda as presenças do embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, e da embaixadora e cônsul do Consulado Geral do Brasil em Paris, Maria-Theresa Lázaro. Luiza Brunet não resistiu e brincou com os diplomatas: “eu também sou embaixadora, viu?”, numa alusão ao título de embaixadora do projeto ‘Mãos EmPENHAdas’, concedido à modelo e empresária pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, onde ela nasceu. Posteriormente, o título foi concedido a ela por outras instituições voltadas para a causa de proteção às mulheres.
Ações reais dão poder às mulheres
Na abertura do evento, Andrea Clemente, uma das líderes do Grupo Mulheres do Brasil em Paris, apresentou as ações concretas que o movimento realizou ao longo dos dois anos de presença na capital francesa. “Nosso objetivo é contribuir de fato para tornar mais fácil a vida das mulheres brasileiras moradoras em Paris. E hoje o Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Paris é muito valorizado na França, porque não estamos aqui para ficar na teoria. Embora sejamos uma associação suprapartidária, somos políticas e nosso objetivo é contribuir para transformar de verdade as dificuldades enfrentadas por imigrantes e expatriadas”, enfatiza Andrea.
Liderando o Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Paris desde sua criação – juntamente com Nazish Munchenbach, que agora se despede e passa a liderança para Anna Carolina Coelho –, Andrea ressaltou ainda que, nestes dois anos, mais de 1.500 mulheres passaram pelos eventos e ações da associação. “Temos atualmente mais de 500 mulheres em nossa rede, fizemos mais de 50 ações, temos 23 líderes-voluntárias atuantes em nossos comitês e mais de outras 100 voluntárias que colaboram eventualmente”, completa Andrea.
Exemplos de algumas ações, segundo Andréa Clemente, são as oficinas para ensinar a doceiras e mulheres que vendem artigos comestíveis a se regularizarem junto ao órgão de vigilância sanitária local. “Aqui muitas mulheres brasileiras acabam fazendo da habilidade em fazer pão de queijo e brigadeiro uma atividade de complemento de renda familiar. E muitas dessas mulheres não têm a documentação necessária. Com isso acabam enfrentando dificuldade em vender, pois a França segue corretamente as leis”. Por meio dos ateliers, elas recebem orientação jurídica e conseguem se regularizar.
Canal direto com vítimas de violência
Sobre o tema agressões domésticas, a apresentação das líderes do Comitê de Combate à Violência, Jaminny Benício e Tatiane Schneider, mostrou dados de violência na França e no Brasil.
“Aqui na França, a cada 3 dias uma mulher é vítima de agressão ou morte por companheiro ou ex-companheiro. Já o Brasil é o quinto país no ranking mundial de violência contra mulheres. Estamos unidas para acolher as mulheres brasileiras e, se for o caso, levar pela mão aquela que não sabe falar francês até a delegacia. Tanto que temos um ‘direct’ de Instagram específico só para acolher mulheres brasileiras vítimas de violência na França”, explicou Jaminny.
A líder Tatiane Schneider ressaltou que o fato de estar em outro país pode contribuir para a mulher se tornar mais vulnerável a se transformar em uma vítima de violência doméstica. “Existe uma frase famosa de Freud na qual ele diz que não existe uma situação em que uma pessoa seja mais segura do que quando ela se sente amada. Então, refazer toda essa rede de relações afetivas, essa força que a pessoa tem quando se sente amada, amparada ou apoiada, é o aspecto fundamental que faz a mulher se tornar frágil quando mora no exterior. E ela passa a não se sentir forte o suficiente para enfrentar uma situação de violência”, esclarece Tatiane.
Rumo aos 3 anos
A comemoração de dois anos do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Paris foi um sucesso e agora as líderes já estão focadas no futuro. “Este ano temos uma meta de dobrar o número de inscritas e atuar mais efetivamente nos comitês de combate à violência, empreendedorismo, cultura, inserção social, saúde e educação”, informa Andrea.
Tanto que o Grupo já tem dois eventos agendados para novembro. No dia 16/11, às 10h30, será feita a projeção do filme “Je ne suis pas un homme facile”, da diretora francesa Éléonore Pourriat. O filme é estrelado por Vincent Elbaz, como um chauvinista que termina em um universo paralelo em que os papéis estereotipados de gênero são invertidos. Após a sessão, haverá um debate com Tatiane Schneider e Jaminy Benício, líderes do Comitê de Combate à Violência contra Mulher.
Dando continuidade aos eventos de novembro, no dia 19, às 14h, é o momento do Comitê de Empreendedorismo entrar em cena, com um atelier de redação de currículos em francês. A proposta é decodificar às brasileiras como se prepara um resumo profissional mais adequado às empresas francesas. O objetivo é ajudá-las a se inserir no mercado de trabalho local.
Os dois eventos acontecem na Maison de La Vie Associative du 16ème. 14 rue Rene Boysleve – 75016 – Paris
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