Estudante de Pedagogia foi levar convite para mais meninas pretas se engajarem nas atividades do Comitê Meninas do Brasil do Grupo Mulheres do Brasil
* por Silvia Pereira Pelegrina
Estudante de Pedagogia na Feduc (Faculdade do Educador) e diretora do coletivo Black Empire, Naiara Gomes se emocionou e emocionou a plateia presente ao evento Plugar da Igualdade Racial, no último 24 de outubro, na Torre Santander, em São Paulo. A participante do Comitê Meninas do Brasil do Grupo Mulheres do Brasil foi surpreendida pela exibição de um vídeo emocionante com flashes do evento “Meninas Lideram”, que envolveu dezenas de jovens e adolescentes em atividades e discussões em torno do que é ser menina no País, em 19 de outubro passado, na Feduc.
Chamada para falar sobre o evento e também sobre os objetivos e metas do Comitê Meninas do Brasil, Naiara começou contando sua própria história, semelhante à de muitas outras meninas do País. “Eu nasci na comunidade de Paraisópolis e com 8 anos fui para a do Jardim Ibirapuera. Sempre fui a menina que não ia ter nada, que não tinha perspectiva, que era apontada como o a que seria mãe na adolescência e dependente química. Cresci com esse pensamento: ‘eu não vou conseguir nada, não vou ser nada e terei que me contentar com isso’”, narrou.
Mas Naiara permitiu-se sonhar em ser professora e, ainda menina, criou uma escolinha em sua comunidade, com direito a reunião de pais.
Daí que, no terceiro ano do Ensino Médio, prestes participar da solenidade de formatura, um professor a par de seu sonho lhe enviou o link de um certo conteúdo da internet: falava sobre uma faculdade que dava bolsas de estudos de 100% para alunos que provassem merecê-la, por meio de uma prova de admissão. “Eu sempre tive a faculdade como um sonho impossível, algo que eu nunca ia conseguir realizar, porque eu era preta, pobre e da favela… até eu descobrir esta faculdade. Eu fiz a minha inscrição no dia 8 de dezembro de 2016. Numa quinta-feira foi minha formatura no Ensino Médio, e em um domingo fiz minha prova para a faculdade. Na terça-feira seguinte descobri que tinha conseguido minha bolsa de 100%”, contou Naiara.
Assim a jovem furou sua primeira nuvem. “Desde então, eu venho conhecendo muitas coisas, muitas pessoas e me conheci dentro dessa faculdade. Foi ali que conheci também a minha história, todo o significado da minha existência e da minha luta como menina preta”, declarou a universitária.
Foi como participante de grande atuação no Comitê Meninas do Brasil que Naiara falou sobre seu trabalho e objetivos no Plugar Igualdade Racial. “O comitê vem para aproximar e dar visibilidade às meninas, porque quando a gente fala em problemas [femininos], a gente tem a tendência em focar em problemas de mulheres adultas, com suas famílias, formadas ou não. A gente esquece das meninas abusadas pelos irmãos, das violentadas pelos pais, com depressão e, muitas vezes, das meninas pretas!”, comentou, emendando que seria maravilhoso o comitê obter apoio do Comitê de Igualdade Racial. “Vim trazer um convite: precisamos de mais meninas [de 13 a 25 anos] no Meninas do Brasil. Vamos escurecer um pouquinho mais o comitê. Porque, se a coisa está preta, a coisa está boa, né?”, brincou.
*Por Sílvia Pereira
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