Se a literatura leva o leitor a viajar por outros mundos e culturas, para os 200 detentos de 10 penitenciárias do Estado de São Paulo que participam do Programa Remição em Rede, ler significa também uma nova chance, transformação, um caminho possível para a conquista da liberdade.
O projeto, criado em 2017, é fruto de uma parceria entre o Grupo Mulheres do Brasil, por meio do Comitê de Cultura, a Fundação de Amparo ao Preso (FUNAP/Governo do Estado de São Paulo), a Jnana Consultoria e as Editoras Boitempo, Planeta, Record e Todavia. Só em março deste ano foram emitidos 616 pareceres pelas 34 voluntárias do grupo. Até o momento foram corrigidas 723 resenhas.
Os personagens principais deste projeto são os detentos que escrevem resenhas. “São pessoas privadas de liberdade, que certamente não tiveram o direito humano à leitura garantido e que agora têm os livros como pontes, como uma possibilidade de esperança”, explica Janine Durand, líder do Comitê de Cultura, articuladora e voluntária do Programa Remição em Rede.
O projeto tem como base a Lei de remição de pena pela leitura, aprovada em 2013, e prevê que cada livro lido mensalmente pelo detento pode diminuir sua pena em quatro dias. O preso tem a possibilidade de ler 12 livros por ano e conseguir até 48 dias de remição da pena. Para isso, ele precisa ler a obra e apresentar uma resenha que será avaliada e encaminhada ao juiz regional para que seja concedida a diminuição da pena.
“Este é um avanço inestimável aos apenados e também à sociedade, já que o livro amplia a visão de mundo, abre portas para interpretações, metáforas, aquisição de linguagem e ampliação do repertório possibilitando a conquista de protagonismo e autonomia no exercício da cidadania”, diz Janine Durand.
Para Luciana Gerbovic, também líder do Comitê de Cultura do Grupo Mulheres do Brasil, se por um lado a leitura de literatura propicia tudo isso à pessoa que está privada de liberdade, por outro, propicia uma experiência enriquecedora às voluntárias responsáveis pela avaliação das resenhas.
“Há uma desconstrução principalmente do preconceito. Os livros que selecionamos são complexos, às vezes na forma, às vezes no conteúdo e às vezes na forma e no conteúdo juntos (não subestimamos nenhum leitor). E as pessoas que estão nessa situação de privação de liberdade, que no passado tiveram pouco ou nenhum contato com a literatura, fazem leituras riquíssimas, refinadas e inteligentes. Mostram-se bons leitores, o que, por preconceito, não se espera”, destaca Gerbovic ressaltando ainda que as avaliadoras se emocionam e aprendem muito.
“Com isso crescemos todos na nossa humanidade”, conclui Gerbovic.
Fonte: Revista Emilia
Projeto maravilhoso. Gostaria de fazer parte da Rede e quem sabe criar um núcleo aqui, em Belém do Pará.