*Texto enviado por Fernanda Bianchini
Neste dia 21 de março, data em que celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Down, comemoramos aqui na AFB – Associação Fernanda Bianchini, não só muitas conquistas, como também muitos sorrisos. Costumamos dizer por aqui que as crianças, e os pais das crianças com este tipo de síndrome, nasceram com Cromossomos do Amor.
As crianças com Síndrome de Down são verdadeiramente especiais. São intensas, sorridentes, esforçadas e extremamente carinhosas. E são elas que me ajudam a lidar melhor com crianças e adultos com outros tipos de deficiências ou síndromes no meu dia a dia. É sempre um aprendizado. Elas sabem interagir e sabem enxergar como ninguém o que o outro realmente precisa em cada dinâmica. Elas sabem se ajudar e se motivar como ninguém.
São elas também que adoram os aplausos, e costumam ser as últimas a deixar os palcos. Fazem inúmeras reverências e aceitam os seus louros. Talvez, porque se esforçam muito para conquistá-los, e sabem que aqueles que estão ao seu lado também.
Hoje somos mais de 500 alunos apreendendo juntos na AFB, 60% são cegos, 30% têm outros tipos de deficiências e/ou síndromes e apenas 10% não apresentam nenhum tipo de deficiência, em geral são pessoas de baixa renda. Essa diversidade é importante para exercitarmos o que chamamos de “Inclusão às Avessas”.
Me lembro bem… o trabalho da AFB teve início há 25 anos. No começo atendíamos somente pessoas com deficiência visual. Dez anos se passaram e chegou até nós uma criança cadeirante, e foi ela que abriu a nossa mente e as nossas portas para trabalhar com outras deficiências e até síndromes múltiplas associadas.
Desde então, muitas crianças com deficiências motoras e intelectuais se juntaram a nós, formando um grupo coeso e forte, no qual aprender Ballet Clássico vai muito além do aprendizado com exercícios de barra, centro e diagonal. Atuamos com uma equipe multidisciplinar em paralelo que trabalha suas características de hiperextensão e também o seu fortalecimento muscular associado ao Pilates.
E os resultados são surpreendentes, e encantadores. São aulas muito intensas, recheadas com muito amor e carinho, nos lembrando sempre que através da Arte podemos transformar lágrimas em sorrisos. Por isso, gostaria de deixar nesta data a minha mensagem de otimismo e especial atenção aqueles que têm suas crianças com Síndrome de Down em casa ou na família: elas são realmente capazes.
No ano passado eu perdi minha Tia Coca, a primeira pessoa com Síndrome de Down que conheci. Ela morreu aos 64 anos, idade muito além das expectativas de vida das pessoas com esse tipo de síndrome, e relaciono o fato ao seu estilo de vida. Ela era extremamente ativa, participativa e foi totalmente inserida na sociedade pela família. Frequentava todas as nossas festas, ia à igreja, tocava teclado e cantava no Coral. Por isso, eu verdadeiramente acredito que eles são capazes de ir muito mais além quando nós os acolhemos em todos os sentidos.
Meu muito obrigada a todas essas crianças, adultos e pais em minha vida!
*Fernanda Bianchini Saad, fisioterapeuta e bailarina, desenvolveu o método de ballet para cegos e pessoas com deficiência. É fundadora da Associação Fernanda Bianchini que completa este ano 25 anos de história.
*Fotos: Angela Rezé
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