Grupo Mulheres do Brasil lança o Programa Plugar que propõe ações globais e assertivas de combate à violência contra a mulher
Combater para transformar, enfrentar a guerra civil contra as mulheres brasileiras. Somente no ano passado 4 milhões e 600 mil mulheres sofreram agressões físicas no Brasil, segundo levantamento feito em fevereiro de 2019, pelo Instituto Data Folha, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento aponta que 27,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais sofreram algum tipo de violência nos últimos meses; 37,1% das brasileiras relatam ter sido vítima de assédio no último ano; 7,8% foram assediadas fisicamente em transporte público. O relatório aponta ainda que o número de violência entre mulheres pretas (28,4%) e pardas (27,5%) também é maior do que entre brancas (24,7%).
O Grupo Mulheres do Brasil lançou uma grande campanha pelo fim da violência contra a mulher, uma das causas globais defendidas pelo movimento que já reúne mais de 28 mil mulheres no Brasil e no exterior. Trata-se do Programa Plugar, idealizado pelo Comitê Expansão para unir ações e metas globais de três importantes causas defendidas pelo Movimento, que também conta com seus respectivos comitês representativos: Combate à Violência Contra a Mulher, Educação e Igualdade Racial. “Entendemos que são três pilares fundamentais do Grupo, com os quais todos os núcleos devem estar comprometidos, envolvidos e unidos para fortalecer nossa voz e nossas ações, em cada uma dessas causas”, explica Lílian Leandro diretora de expansão e líder do Comitê Expansão, responsável pela estratégia de crescimento do Grupo Mulheres do Brasil, que hoje está presente em 50 diferentes localidades no Brasil e no exterior.
O lançamento ocorreu dia 27 de junho, no auditório do Santander, em São Paulo, com um grande Fórum sobre Combate à Violência contra a Mulher, reunindo, na primeira etapa da programação, representantes dos Núcleos Regionais, que apresentaram e compartilharam experiências e ideias, além de informações importantíssimas da área, como leis, dados estatísticos e movimentos existentes. O objetivo foi definir três ações a serem aplicadas e implementadas, no período de um ano, em todos os núcleos do Grupo, com acompanhamento e divulgação periódica.
“Buscamos entender a voz do Grupo Mulheres do Brasil sobre o combate à violência e lançamos um concreto plano de ação com três metas globais para os Núcleos se engajarem na causa. Em maio, fizemos uma pesquisa com os 47 Núcleos ativos, com uma pergunta bem simples: se a localidade já desenvolvia ou planejava para o semestre alguma ação de combate à violência contra a mulher. Dos 43 que participaram, 29 Núcleos já estavam trabalhando no tema. Daqui a seis meses queremos repetir a pesquisa e a ideia é que todos os núcleos tenham ações nessa área”, diz Lílian.
Haverá um Observatório para acompanhar o desenvolvimento dessas ações pelo país e até mesmo nos Núcleos internacionais, dentro do que for possível aplicar. “Será um enorme aprendizado também neste sentido. E toda esta jornada será periodicamente compartilhada por meio de divulgação nos canais de comunicação do Grupo”, complementa Lílian.
Posicionamento
Segundo Luiza Helena Trajano, a violência contra a mulher não pode mais ser vista com indiferença pela sociedade. “O objetivo é dar um posicionamento do que nós queremos e do que nós tanto fazemos para que todo o Grupo fale a mesma língua. Será um documento claro que mostrará o nosso protagonismo nas nossas causas globais. O que pensamos e aonde queremos chegar. É nosso compromisso, queremos selar um pacto global pela fim da violência contra a mulher”, diz Luiza.
Para Elizabete Scheibmayr, uma das líderes do Comitê de Combate à Violência contra a Mulher, os números estatísticos alarmantes da violência contra a mulher confirmam a importância de engajar todo o Grupo Mulheres do Brasil nesta causa. “O Plugar conectou todos os Núcleos fazendo com que discutissem essas causas e que pensassem em ações que possam diminuir este número. O primeiro passo é a conscientização e, agora o próximo passo é estabelecer metas globais e compartilhá-las. O Programa Plugar será a ponte entre os comitês de combate à violência contra a mulher em todo o país.
Recorte Racial
Em sua fala inicial, ao apresentar dados estatísticos sobre violência contra a mulher, Raquel Preto, também líder do Comitê de Combate à Violência contra a Mulher alertou sobre a questão racial. “A violência contra a mulher negra tem aumentado tragicamente. Portanto, trabalhar com combate à violência contra a mulher – primeira troca: é fundamental que no trabalho do Núcleo haja a preocupação inicial de fazer a abordagem da questão racial. Não dá pra trabalhar com combate à violência contra a mulher no Brasil sem lembrar do recorte racial”, diz Raquel.
“Até o atendimento da mulher negra é diferente ao dispensado à mulher branca quando vai fazer a denúncia: é porque bebeu, é porque merece. Então, quem vai trabalhar com combate à violência precisa ter esse olhar”, ressalta Elizabeth Scheibmayr.
Luiza Trajano propõe a todas um olhar atento a esse recorte racial em todas as ações. “Eu tenho trabalhado muito a violência contra a mulher, mas esse viés negro, confesso, precisa estar mais presente em meu discurso. Fiquei muito sensibilizada. Vamos ficar atentas a isso”, destaca Luiza.
Raquel Preto lembrou ainda que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a maior transgressão de direitos humanos no mundo é a violência contra a mulher. “Não é admissível, isto é uma guerra civil. Uma em cada três mulheres sofreu, sofre ou sofrerá agressão até o final da sua vida. Nenhum ser humano tem esse estigma tão forte de vida quanto a mulher”, conclui a ativista.
Ações Globais
O Programa Plugar – Combate à Violência contra a Mulher definiu as seguintes ações globais a serem aplicadas e implementadas em todos os seus Núcleos – São Paulo capital e regionais
1 – Mapeamento da violência de cada Núcleo (apresentar recorte de raça)
- Quantos CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) ou similar?
- Quantos Centros de Referência e Apoio a Mulher Vítima de Violência?
- Quantas Delegacias da Mulher? Se não houver tem atendimento diferenciado nas delegacias comuns?
- Há Casa da Mulher Brasileira? Há projeto de instalação? O Município possui alguma alternativa similar?
- Como é a rede de proteção?
- Como é a atuação das promotorias?
- Há projetos voltados para homens agressores?
- Quais as organizações formais ou informais que trabalham no Combate à violência contra a mulher?
2 – Adoção de uma DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). Fiscalização e levantamento das demandas das delegacias. Fazer uma ‘operação capricho’, checar se há área para crianças, etc. Se não houver delegacia da mulher, essa ação poderá ser feita em delegacia comum (espaço para atendimento da mulher).
3 – Projeto Lampião : Vamos falar com os homens sobre violência e masculinidade tóxica.
Os Núcleos deverão ainda criar um Grupo de Trabalho (GT) para estudar e aprofundar entendimentos sobre a Violência Obstetrícia.
Talk Show – Combate à Violência contra a Mulher
Na segunda parte do Programa, houve um debate com as autoridades no assunto Raquel Preto, diretora tesoureira da OAB, Maria da Penha, fundadora do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa, vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Silvia Chakian, promotora de justiça e Tatiane Moreira Lima, juíza de direito, além das convidadas especiais Elaine Caparroz e Jéssica Aroni, ambas vítimas de violência, que se reuniram em um Talk Show, mediado pela presidente do Grupo Mulheres do Brasil, Luiza Helena Trajano. Confira abaixo a cobertura completa.
Programa Plugar mobiliza sociedade pelo fim da violência contra a mulher
Plugar – Violência contra a mulher também se combate com educação
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