* por Silvia Pereira Pelegrina
Um trabalho do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Fortaleza tem levado novas perspectivas profissionais a rendeiras de Aquiraz, município litorâneo na região metropolitana da capital cearense.
O trabalho é desenvolvido desde 2017 junto a duas associações de rendeiras: da Prainha e do Iguape – ambos distritos de Aquiraz. O objetivo, segundo a líder do Núcleo, a administradora de empresas Annette Reeves de Castro, é “assegurar uma perenidade dessa cultura do artesanato”, por meio da instrumentalização das rendeiras com noções de empreendedorismo.
“Quando o Núcleo surgiu e a gente começou a discutir sobre o que deveríamos apoiar, chegamos à conclusão de que tínhamos essa obrigação”, diz Annette, referindo-se ao grande patrimônio cultural representado pela renda de bilro, artesanato típico daquela região, produzido há gerações. “Queríamos que crescesse como arte e design e que não fosse uma coisa que as pessoas comprassem ‘pra ajudar’, mas que tivesse um valor agregado. Também queríamos que as pessoas nesse metier pudessem evoluir”, acrescenta a líder.
Não por acaso, o Grupo de Trabalho (GT) de Artesanato foi um dos primeiros criados pelo Núcleo Fortaleza, motivado pelo objetivo de levar profissionalização às rendeiras, “mostrar a elas a necessidade de qualidade, de empreendedorismo, começando por apoiá-las em custo”, explica Annette.
A designer, empresária e consultora na área de artesanato Ethel Whitehurst é a líder do GT, que possui, hoje, três equipes de voluntárias envolvidas no projeto “Rendas de Bilro de Aquiraz – Transformando Vidas”: a de comercialização, a de design e a equipe “Cuidar umas das Outras”.
O primeiro passo do trabalho foi traçar um diagnóstico do trabalho das duas associações, formadas, cada uma, por 35 boxes de rendeiras. “Vimos a necessidade de dar suporte à comercialização e nos dedicamos a isso durante o ano de 2017”, conta Ethel. Graças a isso, as rendeiras passaram a participar, com suas peças, de vários eventos aos quais nunca haviam tido acesso antes. “Elas não tinham esses vínculos. Temos feito este link delas com o mundo da comercialização”, acrescenta a líder do GT.
De acordo com Ethel, desde o início desse trabalho, a comercialização das rendas de bilro das duas associações tem ocorrido de forma mais profissional. “Elas aprenderam a calcular um preço justo, por exemplo. No começo, muitas vezes, só de olhar eu via que elas estavam vendendo peças com prejuízo”, lembra.
Em 2018, o GT passou a trabalhar também o design das peças produzidas pelas rendeiras e a dar capacitação a elas, “sempre procurando torná-las cada vez mais independentes. Trabalhamos no sentido de formá-las como empreendedoras”, diz Ethel.
Resultados crescentes
Os resultados têm aparecido em forma de números. Desde o início do trabalho, as vendas somadas das duas associações só aumentam: foram 2.200 peças em 2017, 2.600 em 2018 e, neste ano, só até 30 de junho, já foram 1.600.
O trabalho continua. “Tem que crescer ainda. Precisamos trazer os jovens para o trabalho, precisamos fazer com que as rendeiras vivam de sua produção, pois muitas ainda têm que desenvolver outras atividades paralelas. Mas já estamos ajudando na sustentabilidade delas. O caminho ainda é longo”, conclui Annette.
* por Sílvia Pereira
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